INSERÇÃO

nserir-me onde não há tempo
inserir-me onde só haja Deus
e mais  nada
outrossim inserir-me na vida
de todos os que passam

inserir-me nas águas do mar
e ser um com  as águas
desfazer-me líquido nas águas
e sentir a alegria líquida das águas
brincar com os peixinhos e ser um com eles

embriagar-me de vida entre os viventes
casto e menininho como um anjo do céu
rir a todo instante

passear por lugares inimagináveis
lugares reais lá no além dos sonhos
transcender-me e ser um com todos

prostrar-me diante de mim sendo um com todos
prostrar-me diante de todos que são um  comigo

PRECE A JESUS CRISTINHO

nasça mais uma vez (Jesus Cristinho)
na memória dos homens que ainda vivem na guerra
venha lindo menino nascido tão pobrinho
nascido nu desses luxos do mundo
pobrinho nasça outra vez

sob as vozes dos anjos e os louvores das gentes
sob o olhar de Maria: sob o olhar de José
nasça (Jesus Cristinho) nessa noite sem medo
nessa noite serena: nessa noite de estrelas
que me piscam de longe lá da casa do Pai

nasça (Jesus Cristinho) os bracinhos abertos
e me  abrace e me abrace e me faça feliz
entre o alento de um boi e um burrinho
no presépio pobrinho nasça: nasça outra vez

nasça (Verbo de Deus) entre nós nenenzinho
entre os homens em guerra a esperança da paz
nasça (Jesus Cristinho) entre os homens em guerra
nos meus olhos que esperam nasça mais uma vez

NATAL DO MENINO

olhar o menino e percebê-lo Deus
só com olhar de menino
quem não puder ser como os meninos
não  pode ver no menino Deus

deitado Deus entre as palhas
tornada a noite um dia pelo clarão da estrela
a melodia dos céus celebrando-lhe a vinda
o aroma doce do amor perfumando a vida

amado Deus preserve-me o olhar menino
preserve Deus no olhar menino em mim
amado Deus preserve-me menino
só pra que eu veja no menino Deus

deitado Deus entre o boi e o burrinho
na manjedoura Deus
abre pra mim seu braços de menino
e me convida a viver feliz

amado Deus preserve-me o menino
que mora em mim desde que eu era menino

ISSO

aprendo que poesia é invenção
mas invenção é Ele
então Ele é poesia

eu O chamo assim: Ele
porque os nomes (todos os nomes) são Seus
mas poderia chamá-Lo Ela
Ele: Ela: ou Isso
Isso que é Luz e que é Amor

Isso é poesia
e me ama e me inspira
e me faz instrumento de Si

mora em meu coração  e me sacia
da sede de infinito que sinto
torna-me feliz
esplêndido me habita
habita em tudo que vive

ensina-me a amar o que vive
mesmo os que não respiram

CARLOS HENRIQUE

eu sempre me espanto diante
da generosidade de Deus
em me ter dado um filho tão lindo
um filho que ensina ao pai
que me  aponta o caminho
que me ensina sorrindo
que me leva consigo
e é meu filho no Espírito

sempre  me espanta e encanta
a imensa generosidade de Deus
oferecendo a mim presente tão bonito
a doce presença do filho
seu zelo e seu carinho
caminhando comigo na alegria
clareando o sentido da vida

eu sempre  me encanto diante de Deus
generoso ao me trazer um  filho
que  preenche de Amor os meus  dias

         Sítio das Pedras, 25 de novembro de 2012

O QUE É

olhar a árvore
não saber que se chama árvore
ver galhos frutas folhas
não saber que se chamam frutos folhas galhos
deitar-me alegre à sombra da árvore
não saber que se chama sombra da árvore

olhar o mar
não saber que o seu nome é mar
ver a areia a espuma a onda
não saber que seu nome é onda espuma areia
mergulhar-me alegre na água do mar
não saber que seu nome é água do mar

olhar dentro de mim
não saber de mim (meu nome)
encontrar-me na alma (não saber seu nome)
não saber Seu nome e encontrar Deus na alma
não saber que O chamam de Deus

as coisas sem nome (ver as coisas em si)

CONVITE

no neto e no filho
e na mãe do menino
Deus está residindo
em segredo mas sendo

dentro do neto e do filho
dentro da mãe do menino
Deus reside
sendo Ele (Deus)
o único que vive

fazedor do jogo
que de amor nos nutre
Deus alma das almas
do filho antes menino
e da mãe do menino
e do neto menino

nessas formas convida-me
mais íntimo
a senti-Lo

MEDO

eu era criança e tinha medo do inferno
eu tinha medo de Deus que tinha feito o inferno
pra me jogar nele pra sempre se eu não fosse bom

eu queria ser bom pra não ir pro inferno
mas às vezes eu me percebia ruinzinho
sentia medo de Deus me jogando no inferno

me diziam que Deus via todos meus passos
tudo que eu fazia Ele estava enxergando
anotava direitinho todos os meus pecados

me diziam também que pelos meus pecados
Deus se fizera homem pra morrer numa cruz
tinha ressuscitado retornado ao céu e ia voltar pra me jogar no inferno
se eu não fosse bom

mais tarde eu descobri que Deus mora dentro de mim
que nunca vai me jogar no inferno
descobri que ele mora dentro de mim
e em todas as criaturas Ele mora

nunca mais tive medo de Deus nem do inferno

LILA

brincam de roda as bolinhas do céu
em torno de seu sol e giram
giram giram giram sem saber
sem saber por que giram as bolinhas do céu

brincam de esconde-esconde os pássaros que voam
de um galho a outro galho sem saber
sem saber por que voam os pássaros que voam

brincam as formiguinhas indo e vindo
sem saber por que vão
sem saber por que vêm
as formiguinhas indo e vindo

brincam as ondas do mar sobre as ondas do mar
sobre as ondas do mar sobre as ondas do mar
sem saber por que brincam as ondas do mar

brinca o Senhor do Amor quando se faz bolinhas
do céu pássaros formiguinhas ondas do mar
brinca o Senhor do Amor quando sopra Seu sopro
nos viventes que brincam quando neles brinca o Senhor do Amor

TRÍADE E UNIDADE

o feminino em mim
chama-se Iris Selene
chama-se Ana Cristina
chama-se Sophia

fazem morada bem no centro de mim
habitam meu pensamento
habitam-me o coração sereno
moram na minha alma como a Virgem Maria

Iris a namorada a quem chamo Leninha
Ana a filha Cristina graça vinda do Espírito
Sophia pequenina e recém-vinda
porção de vida plena trazendo-me mais vida

o feminino me completa em mim
Iris Ana Sophia
a mulher que há em mim e que me fertiliza

em meu sorriso há o sorriso de Iris
no anseio pela vida há o anseio de Aninha
na alegria da alma a vinda de Sophia

PASSAGEM

era Ele mesmo Deus diante de mim
eu nada percebia
e rejeitava Deus
e todo um mar de angústia me afligia

pois supunha que tendo Sua visão
o êxtase a alegria
eu provaria enfim: provava não
por isso sucumbia
ao peso da aflição

enquanto O rejeitava o amor fluía
de Deus a mim: mas eu
aflito mais  e mais triste ficava
mais  rejeitava Deus

Deus porém puro Amor
me amando prosseguia
até que o Amor venceu
meu ego esmoreceu
e a Luz plenificou todo o meu dia

PEQUENA PETIÇÃO

entre as partículas santas e meus olhos
há uma porta fechada: a chave onde está?
sobre o mármore frio há um busto de homem
um homem metálico de expressão triste
sobre o tabernáculo a Virgem que aponta para o Filho docemente

há nos lábios da Virgem o pleno sorriso
a Virgem me vê e me chama de filho
sou filho amado da Virgem Maria
que docemente aponta para o Filho
com sua mão serena de Mãe

há no meu coração todo o amor pela Virgem
por minha Mãe do Céu a quem rezava menino
todas as noites antes de dormir
a quem confiava meus sonhos todos os dias
(criança que eu era) e me aninhava no colo da Mãe

Santa Maria Mãe de Deus
faço-te nesta manhã de domingo
uma petição pequenina

teu conforto de Mãe nunca me falte
teus  cuidados de Mãe estejam sempre comigo
teu amor me preencha a alma

para que eu nada rejeite da criação de Deus

CANÇÃO DE SOPHIA

ouve o meu coração criança amada
hoje chegada para o meu encanto
ouve o meu coração que te ama e tanto
quando chegas ao vir da madrugada
num dia primeiro auspicioso e santo
ouve meu coração e ouve meu pranto
meu pranto alegre pela sua chegada

e vê (Sophia) a dádiva ofertada
por Deus a ti: diante da qual me espanto
o milagre da vida: quando canto
a vida em ti por mim seja louvada

ouve meu coração pulsando em cada
momento eterno qual doce acalanto
em que a criança durma: durma enquanto
sorvo a alegria imensa que me é dada

ouve o pulsar do coração e o canto
que me escapa da alma e que no entanto
deixa-me a alma assim plenificada

           (Neste dia 1º de outubro nasceu Sophia, minha neta, filha de Ana Cristina)

ÁRVORES

olhai amados meus para as árvores livres
de toda ânsia e inquietação
vede amados as árvores serenas
em cujos galhos pássaros se abrigam

as árvores vivem
elas fixas na terra não se afligem
e se nutrem tranquilas
há quem as nutra e ensine
o caminho às raízes
há quem as oriente para os frutos
que delas nascem

e nós amados meus há quem nos veja?
por que me aflijo quando não me decifro?
por que me angustio
se há quem me assista?

olhai amados o silêncio das árvores que não se decifram
olhai para a sua alegria
de estar vivas

          Mendes, 29 de setembro de 2012

CORAÇÃO DE JESUS

sobre o arco da entrada
há um Jesus de metal
que me oferece o  coração

eu aceito o coração de Jesus
ele é manso e humilde
eu aceito o coração de Jesus para aprender com Ele
que é manso e humilde de coração

as mãos metálicas de Jesus apontam para o peito
me indicando o caminho e me dizendo
"toma este coração (meu coração sagrado)
meu coração espaço da alegria
mesmo se espinhos me ferem o coração"

contemplando o coração de Jesus
enquanto espero que a pessoa venha
mergulho na paz de simplesmente estar vivo
saúdo a vida que há em torno a mim
nas paredes no piso na tela de TV nas pessoas

tomo o coração de Jesus nas minhas mãos
e agradeço a Jesus pelo seu gesto amoroso

SABOR

muito pouco almejo
ao buscar a alegria
há um bailado de formas diante dos meus olhos
há sons que me chegam
há carros que passam e pessoas
eis-me sentado diante da vida
ela me sabe a gostos inefáveis

a todo instante os ruídos invadem o silêncio
mas não me envolvo neles (nos ruídos)
há um silêncio grande no íntimo de mim
um silêncio grávido do que é vida
esse silêncio é o céu com  seu reino
neles os anjos sussurram o indizível nome de Deus
entoam a melodia de Deus
enchem minha alma desses sons de silêncio
entronizam no meu íntimo a presença d'Aquilo
que simplesmente é (Sua perene alegria)

nos lábios de minha alma colocam Seu sorriso

LENINHA

Deus certamente ao me trazer a amada
vive num dia de extremado amor
por mim: por isso dá em meu favor
o amor da amada: e pela minha estrada
coloca flores de um sorriso bom
ilumina uma escura madrugada
na amada me dá tudo e pede nada
sussurra em meu ouvido doce som
mostra-Se a mim na doce namorada

NÃO EGO

não é meu ego o que se alegra em mim
o ego não se alegra: se euforiza
o que se alegra é uma porção divina
a que me faz sorrir: me pacifica

a alegria é da fonte cristalina
e perene jorrando dentro em mim
a mesma fonte que jamais termina
como não tem começo não tem fim

o coração de alegre me saltita
no peito quando o ego está vencido
eu louvo pois a Fonte em preces hinos
a Ela canto cânticos de vida

esta alegria é dádiva: me inclina
cada vez mais a Deus (o ego escondido
espera à espreita mas está perdido)
o que era escuro agora se ilumina

a promessa de Deus se vê cumprida
eu mergulho num rio de água viva

FUSÃO

é no olhar das pessoas
que se capta Deus
Deus morador na alma das pessoas
passa pelas janelas dos olhos
e Se mostra no olhar

o olhar das pessoas por onde passa Deus
pacifica refrigera harmoniza
convida para a vida inspira
pensamentos puros de puro amor

quando Ele Se esconde nas dobras da alma
o olhar não mostra mais Deus
o olhar é sem viço e é baço e é triste
o olhar é sem brilho

de repente Ele surge e Se mostra no olhar
escorre pelos olhos e Se mostra no olhar
então rejubilam-se os que vivem
captam Deus no olhar
fundem-se Deus e o olhar das pessoas

ALI

ali onde os desejos cessam
a alma conhece alegria
voa livre e sorridente a alma
atravessa vales e montes
navega em rios e em mares
suga o néctar das flores e se alegra
inebriada e livre a alma dança e canta
e celebra e se irmana

ali onde os desejos cessam
caem os cárceres e os elos da cadeia
o escuro é permeado de luz
a criança que é em mim desperta
a alma está leve
a alma saltita criança

e sai pelo mundo a espalhar benefícios

O MOÇO

há um moço que dorme
no banco no terminal Tietê
sandálias de dedos pés inchados
agora acorda em melancólico sorriso
estou bem perto dele
e o amo no coração porque ele é a Luz do mundo

por onde anda o olhar do moço?
pra onde ele vai?
de onde vem o moço de sorriso triste?
passa um pequeno pente na cabeça
suas mãos grossa calejadas
o que há de triste em seu sorriso
me acende a compaixão
e o amo no coração porque ele é a Luz do mundo

com o indicador da mão direita
vasculha a narina esquerda sofregamente
agora se levanta e abotoa o casaco roto
olha em torno dá passos curtos olha pros pés
fica parado e vasculha a narina
anda um pouco debruça-se no muro
gestos lentos sonolentos ele existe
e o amo no coração porque ele é a Luz do mundo

de novo ele se deixa ficar no banco
pra onde olha o olhar do moço
de sorriso que me acende a compaixão?

de sua boca sem dentes brotam palavras chulas
e eu o amo no coração porque ele é a Luz do mundo

O VERBO

no princípio era o Verbo
o Som era no início
o Verbo estava em Deus
era Deus o Som signo

o Som Verbo se fez
mundos (fez-se universo)
múltiplo Ele Se fez
quando Deus fez-se externo

antes da luz Silêncio
Silêncio preenchido
de Deus (Som que é o Verbo)
sem começo e infinito

porque o Silêncio é cheio
do Som Verbo Divino
ao voltarmos pra Deus
vamos ao Som do início

no princípio era o Verbo
Fonte do que está vivo

LEMBRANÇA

Deus bocejava ainda
quando na manhã de sol me acordei
não  havia nuvens no céu
os pequenos sons dos filhos de Deus
passarinhos e outros irmãos
povoavam o céu

o ar que eu respirava era Deus
transparente na Sua criação
os  sons dos pássaros também eram Deus
o sol que me olhava esplêndido
o verde das folhas
tudo era Deus que acordava em Sua criação

as pessoas que me esperavam lá fora
eram Deus me esperando lá fora

então eu amo as pessoas
reconheço que sou elas e que elas são eu
somos o Amor (que é Deus)

Para Maria

nós queremos contigo estar no céu
onde cessa a tristeza e cessa a dor
as aflições terminam: vive o amor
na boca não se sente o amargo fel

nós queremos contigo ter do mel
o seu segredo e místico sabor
o perfume sentir daquela flor
e ver a face do Senhor sem véu

nós queremos (Maria) em teu olhar
abrigar-nos das noites com seus medos
sentirmo-nos então de volta ao lar

ter o afago bendito dos teus dedos
lá nos jardins eternos caminhar
e desvendar do céu os seus segredos

AUSPICIOSO ENCONTRO

o ônibus 49 pela rua estreita
meu coração vai mergulhando em júbilo
em sístoles e diástoles mansas

há no meu coração o prenúncio da paz
mais que prenúncio é presença
há no meu coração a presença da paz
uma leveza santa
uma leveza doce e santa
uma leveza imensa e santa no meu coração

o ônibus 49 pela rua estreita
a imensa paz presença doce e santa
o coração do pai já bem perto do filho
antevendo o rosto e a alma pura do filho

à espera do abraço meu coração sorri
o coração do pai inundado de júbilo
pelo encontro do filho

o coração do pai nesse instante se alegra
é o encontro do filho que alegra o coração do pai

CRISTAL E SATHYA

enquanto outro poema me nascia
foram se aproximando os dois bichinhos

a cachorrinha como um cordeirinho
sobre a minha barriga ela dormia

bem perto Sathya a gata encolhidinha
dormia e assim mexer-me eu não queria

só pra não acordar as irmãzinhas
que me traziam Deus nesta manhã

um Deus que pede a mim por meu carinho

LENINHA

Deus certamente ao me trazer a amada
vive num dia de extremado amor
por mim: assim me dá em meu favor
o amor da amada e pela minha estrada
coloca flores de um sorriso bom
ilumina uma escura madrugada
na amada me dá tudo e pede nada
sussurra em meus ouvidos doce som

mostra-Se a mim na eterna namorada

MARIA SANTÍSSIMA

a afeição por Maria Santíssima
enfeita a alma que sou
Maria Santíssima acolhe o meu amor
me conforta nos dias em que a alegria se vai

lá no calvário do Filho
Maria Santíssima foi presente do Filho
para reinar formosa em minha vida

há no Seu rosto as promessas de Cristo
há nos Seus olhos o clarão infinito
e bom e pleno de verdade e onipresente

há na Sua boca o sorriso de Deus
no Seu hálito o odor de todas as flores
o manto de Maria Santíssima protege-me do mal

Suas mãos me acarinham
Sua voz me embala o sono de menino

Ela  me leva pelas searas eternas
e eu lhe digo Mãe minha Mãe do Céu
fica bem perto quando faz noite em mim

CÉU

além do círculo em que moram prazer e dor
há (para além) o céu
há bem-aventurança
há o estar de Deus no coração das gentes

a busca do prazer me encaminha pra dor
a rejeição da dor me encaminha pra dor
fico preso no círculo em que moram prazer e dor

mas fora do círculo há o céu da bem-aventurança
há Deus no céu Seus santos e Seus anjos

BRINQUEDO(S)

o que em mim me faz
sentir separado e só
não sou eu: é brinquedo

nos dias em que acordo feliz
(quase todos os dias eu me acordo feliz)
o brinquedo é outro
e nem mesmo é brinquedo

é bem-aventurança de saber-me o todo
saborear-me o todo
saborear-me Espírito (sopro
que sopra onde quer)

as águas rolam sobre a água e vêm
vêm ao encontro de mim
que já me sei água e líquido
me deixo penetrar pelas águas que vêm

TUDO

a sensação de que tudo está certo
mesmo havendo o que parece equívoco
tudo está certo
cada acontecimento no seu tempo
tempo de plantar e tempo de colher
tempo de ser alegre e tempo de ser triste
mas tudo rigorosamente certo
de acordo com a vontade não-lógica de Deus

tudo concorrendo para o bem dos que amam a Deus
também os espinhos na carne
também as topadas nos dedões dos pés
também as lágrimas que correm abundantes pela face dos justos

a sensação de plenitude agora
a percepção de que nada
é para ser diferente do que é

e não há questões a resolver
e não há problemas a serem sanados
e Deus (insondável mistério) paira além dos contrários

SORRISOS

ao sorriso das ondas
(elas sorriem líquidas e azuis)
eu sorrio na fluidez da carne
minha carne é o líquido das ondas
são os jogos de Deus: Seus movimentos
que parecem reais como este fim de tarde

o oceano é grande mas cessa
nas praias todas que há
as ondas se desfazem líquidas
minha carne frutificada certo dia se vai
são os jogos de Deus: Seus rostos múltiplos

o pensamento se dilui mas a alma fica
a alma é Deus: somente a alma fica
porque a alma é
a alma não vem
porque a alma nunca se vai

ao sorriso das ondas
a alma (que é Deus) sorri para além do líquido e da carne

INSETO

o inseto pequenino
paira na luz do dia
já não o vejo ínfimo
foi desaparecido

lá nesse inseto há vida
tudo ao redor se vive
mistério incompreendido
vida por si se afirma

o inseto é ser divino
no inseto Deus é vivo
imerso em Sua rotina
de ser Deus nele brinca

amo no inseto o ritmo
dO que no inseto fica
depois Se vai e a vista
não mais O vê e explica

Deus o inseto ilumina
luz que não se decifra

DEUS CHARITAS EST

há que se aguardar o momento
em que não mais rolarão lágrimas pelo rosto dos homens
porque as mãos do Amor vão secá-las na fonte
vão fazer da alma o lugar da alegria

há que se adorar o Amor
há que se adorar o Amor nas formas nascidas
em todas as formas nascidas
servindo as formas como quem serve o Amor

há que se amar o Amor nos carentes de amor

Ressurreição

o corpo denso
de crosta espessa
a alma entorpece

e sonolenta
a alma se deixa
prender-se ao tempo

torpor intenso
cerra seus olhos
murcha seus passos

a alma vacila
torna-se aflita
vê-se isolada

já não percebe
que as almas todas
todas são uma

até que o Ser
com sua bela
misericórdia

tocando a alma
qual brisa leve
leva-a no vento

baila com ela
que o sono vence
dá-lhe outro viço

no corpo denso
a alma volátil
de novo brinca

PRENCHIMENTO

os cães vadios têm a alma de Deus
a alma de Deus andeja pelas ruas
todas as formas têm a alma que é Ele

Ele reside nos monturos de lixo e nas flores fragrantes
na matéria que retorna ao pó Ele reside
Ele não faz acepção de pessoas
Ele preenche todos os espaços vazios
todos os espaços são preenchidos de Deus

também meu coração é preenchido d'Ele

PARA JOÃO MORENO

há quem se importe somente
consigo mesmo: há quem pense
só em si: nos outros não

há quem ao mundo se feche
seus semelhantes não veja
faça da vida prisão

há quem se sinta contente
vivendo egoisticamente
no meio da multidão

mas há quem no meio à gente
revele ter fome e sede
de justiça e de união

há quem dos homens se lembre
partindo ao encontro deles
para estender-lhes a mão

há quem se faça semente
do encontro de humanos seres
e faça do outro o irmão

TODOS

todos os sonhos
todos os filhos
todos os mundos
surgem de Deus

todos os bichos
todas as gentes
todos os entes
surgem de Deus

todos os dias
todas as noites
calor e frio
surgem de Deus

todas as cores
todas as flores
amores dores
surgem de Deus

e porque surgem
todos são Deus

POEMINHA PARA JOÃO OU SOPHIA

sendo João
(Deus é bondoso)
celeste gozo
terei então

sendo Sophia
(Sabedoria)
muita alegria
(no coração)

ASSUNÇÃO

o corpo glorificado
eu sou assunto às estrelas
a correr brinco entre elas
voo estrela pelo céu

contemplo a face de Deus
sou de matéria incorpórea
visto-me apenas de Luz

estou diante de Jesus
do Pai: da Virgem Maria
diante do Santo Espírito

vejo os mundos tudo é meu
minha a perene harmonia
minha a suave alegria
o sonho se esvaneceu

mergulho na eternidade
me espraio (não me limito)
nas infinitas campinas
pelos vales lá do céu

PEDIDO

alarga (Senhor) meu coração
dilata meu coração (Senhor)
pra que eu acolha nele o claro e o escuro
luz e treva o justo e o injusto bons e maus

faz-me ser como a chuva que cai hoje sobre a terra
vai molhando oprimidos e opressores
vai molhando pecadores e santos
vai molhando  caminho e  descaminho

me dá (Senhor) um coração amplíssimo
um coração que se infla como balões de festa
mas que nunca arrebente como os balões

que ele contenha  frio  calor  vento calmaria
que ele contenha o fel e a doçura
que ele  contenha meus amigos  meus inimigos
que ele pulse ao Seu compasso e impassível
passe pelo abismo e se mantenha inteiro

me dá (Senhor) um coração imenso
pra que eu só sinta a Ti quando sentir o mundo

VIDA

a vida se insinua na barriga
de minha filha Ana Cristina
se a vida for menino já se chama João
se a vida for menina depois se pensa num nome
é que Ana Cristina a minha pequetita
sonhou com João

a vida no silêncio do útero
me alegra o coração e o enche de vida
a vida é uma dádiva divina

AGRADECIMENTO

eu Te agradeço Deus
quando Te acho distante
porque o afã de buscar-Te
me aproxima de Ti

eu Te agradeço Deus
por toda dor sentida
porque então Te pedia
misericórdia e Tu

sempre sempre me ouvias
mesmo que a dor sentida
permanecesse em mim
era sim Teu amor

eu Te agradeço Deus
pelas minhas fraquezas
sendo fraco sou forte
pois tudo posso em Ti

eu Te agradeço Deus
Teu amor não tem fim

TEM DIAS

tem dias em que me vejo bobo
por acreditar na mudança do mundo
me chamam de otimista com uma ponta de riso
zombam de mim os que só enxergam a treva

que razões haveria pra que eu seja otimista?
então não percebo que há um vale de lágrimas
dores acumuladas sobre dores
homens escravizados pelos homens?

haverá novo céu e nova terra (eu penso) e fico no aguardo

ALMAS (II)

havia nesta manhã a dor dos filhos

os filhos choram pela perda do pai

os filhos veem o corpo inerte do pai

sabem que ele ali não está

sabem que a alma se foi

pra onde se foi a alma do pai?

foi pra alma dos filhos

adentra a alma dos filhos

diáfanas as almas se entrelaçam

o pai vai morar na alma dos filhos

nessas almas se funde a do pai: ele vive

vive também no ar no azul do céu no céu

vive com Jesus e com a Virgem Maria

vive com todo os anjos e com todos os santos

vive na alvorada dos dias e no cair das noites

havia nesta manhã a dor dos filhos

havia a graça de Deus nesta manhã

as mãos de Deus entrelaçando as almas

LUCIDEZ

acordo para a vida

a cada dia mais vivo

mesmo que haja em mim um travo de amargura

prazeres e dores

euforia e pranto

uma topada no dedão e o gosto do mel

tudo impermanente

tudo parece que é mas não é

acordo para a vida a cada dia mais vivo

RISOS

vejo o riso de Igor

e o riso do seu filho

são dois risos bonitos

são bem mais que dois risos

é o amor com seu viço

que ali se clarifica

no riso estão unidos

eu os contemplo lindos

há tal força de vida

no riso do meu filho

no do filho do filho

(vidas que se unificam)

eu primeiro a ter vindo

há tantos tempos idos

neles dois me eternizo

não mais dois: UM comigo

(como Deus: uno e trino)

eu: meu neto: meu filho

ÚLTIMA CEIA

o Mestre reunira os doze e então

lhes deu como preceito o mútuo amor

"amai-vos uns aos outros" lhes falou

"assim como Eu amei amai Eu sou

seu Mestre e sou também o seu Senhor"

Se fez semente em cada coração

mesmo no que o traiu Jesus entrou

mas ele emaranhou-se na ilusão

nele o sêmen de Deus não se fez flor

MOMENTO DIVINO

jorram palavras vivas

jorram claras e limpas

da boca do meu filho

essas palavras livres

de tudo que é mentira

revelam-me o caminho

todas vindas do Espírito

todas cheias de viço

todas do Amor nascidas

ouvi-las me extasia

alegria incontida

de ouvi-las do meu filho

a Deus agradecido

por sentir de alegria

a alma preenchida

por ter no filho o amigo

com o qual me unifico

num momento divino

O BOSQUE

na alma que há em mim havia um bosque

que se chama que se chama solidão

era um bosque tristonho porque nele

nem anjos me roubavam o coração

um dia a alma fez-se bosque em flor

pássaros cantam nesse bosque e assim

ao enxergar na alma Deus-Amor

a solidão se foi pra onde não sei

e o gosto de viver se fez em mim

ARMAGEDON

o Armagedon se passa dentro de mim

entre a luz que há em mim

e as sombras que há

entre o Eu que esplende e o ego mesquinho

entre joio e trigo germinados na alma

entre o que é belo e o que não é belo

entre suavidade e asperezas

pandavas e kauravas combatendo na alma

desordenadas paixões e serena harmonia

Deus e o inimigo de Deus

vida e não vida confrontam-se e conflitam

quando o escuro parece estar quase vencendo

elevo a mente ao manto azul da Virgem

peço-lhe proteção e Ela me ouve

amorosa me põe em seu regaço

em seu regaço consolação de Mãe

me lembra que as dualidades são só aparência

me faz perceber que apenas a Luz é real

O MESMO

choro com quem chora

com quem sofre sofro

me alegro com quem se alegra

do pranto de todos teço meu pranto

meu sorriso tecido do sorriso de todos

um só coração e uma só alma

todas as carências são minhas

reparto com todos minhas alegrias

atento ao desejo de Deus me esvazio de mim

SEVA (SERVIÇO)

a cada prato a cada faca

a cada garfo que eu lavava

a cada colherzinha a cada xícara

a Deus nos meus irmãos eu me entregava

entoava cânticos e as mãos sorriam

o coração dançava no meu peito

iluminado pela luz do dia

de um dia começado assim sagrado

porque eu servia a Deus

servindo aos filhos meus (irmãos amados)

a cada prato a cada faca

a cada garfo colherzinha e xícara

clara brilhava em mim a luz divina

que somos todos pois só somos Isso

a alma leve e límpida cantava

as mãos sorrindo feitas pro serviço

oravam mais que os lábios e contritas

me ofereciam Deus fonte da vida

IDEÁRIO

das ondas líquidas

que vão e vêm

quero a incerteza

ser a criança

que nada sabe

ser como alguém

que a Deus confia

todos os dias

o seu caminho

quero a inocência

do cordeirinho

a paciência

do monge zen

o voo errante

do passarinho

quero a pobreza

ter a riqueza

dos que não têm

SOZINHOS

eu me confundo com um outro

aquele que a mim faz sentir-me um eu

distinto dos que deambulam diante de mim

cujos nomes não sei nem nada sobre seus ancestrais

esse outro me ilude e me quer separado

eu com a minha identidade

cada um com a sua: e o amor? distante de todos

eu me confundo: porque em verdade

eu sou Ele ou Isso (sou O que é)

todos são O que é mas se sentem sozinhos

isolados nas ilhas de corpo e mente e desejos

náufragos na ilhas em desassossego

uns com medo e ódio dos outros

como se fôssemos egos intransponíveis

e é uma dor que me parece real

essa dor de se existir sozinho

quando em verdade aos sozinhos subjaz

O que é (a Quem reverencio)

PEDIDO

deixem-me (lhes peço) que os que fazem planos

façam (porque o sabem) seus planos

deixem que os pensadores pensem

e que os doutos ensinem

as pessoas de espírito prático

deixem que executem os planos

pois foi pra isso

que Deus lhes concedeu o espírito da prática

quanto a mim nem prático nem douto

mui lento no pensar: frágil nos planos

deixem-me navegante do sonho

viajar pelo espaço onde as estrelas brincam

quanto a mim que sou devoto da Virgem

deixem-me tão somente ir ao encontro

das criaturas (de todas as criaturas de Deus)

deixem-me falar-lhes das belezas de Deus

deixem-me contar-lhes que Deus as ama

deixem-me que eu as ame por amor a Deus

FELIZES

felizes os pássaros do céu

porque suas asas os conduzem pelo céu

felizes os sons singelos das manhãs

porque povoam suaves e serenos o silêncio

felizes os que se esquecem de si

porque neles cintila a chama eterna da vida

felizes os que nada possuem

caminham livres e sorriem sempre

porque em tudo sentem a presença de Deus

MÃOS DE DEUS

pela mãos dos homens se completa o trabalho de Deus

as mãos jogam sementes de Deus na terra

adubam a terra e os homens esperam

que Deus se faça fruto a repartir-se

a repartir-se entre todos os homens

Deus quer-Se repartir como fruto

assim Ele espera pelas mãos dos homens

mãos que vão repartir os frutos da terra

pra saciar a fome de todos os homens

SACRÁRIO

ao levantar meu corpo

o sol não se fizera no céu

saio em busca do Corpo de Cristo lá na capela

mas a capela está fechada

Cristo está sozinho na capela

e eu queria tanto estar com Ele

diante do sacrário

eu ia meditar o rosário da Mãe

pausadamente: mantricamente

para entregar-me a Deus nesta manhã

mas a capela está fechada

Cristo trancado sozinho na capela

e eu queria tanto estar com Ele

então sob o piscar das estrelas

na semiescuridão que prenuncia a luz

vejo o Corpo de Cristo nas estrelas

no ar que inalo e exalo

nos cantos dos primeiros pássaros

e em meio ao rosário da Mãe me entrego a Deus

PRESENÇA

havia a presença do sagrado ali

a presença da bem-aventurança

Deus passeava contente no olhar das pessoas

o sorriso das pessoas abrigava Deus

havia uma atmosfera de vida abundante

a vida transbordava na face das pessoas

as pessoas se descobriam crianças

e pelos poros transpiravam Deus

eu ao entrar ali

meu coração dilatou-se até o infinito

era Deus que se mostrava no coração das pessoas

era Deus (o inefável) engravidando-me a alma

de luz: de esperança: de amor: de fé

era Deus que me bastava com Sua graça

as pessoas me ofereciam Deus

eu as amava ali

o amor respondendo ao amor

no olhar das pessoas mora o amor de Deus

AVE

uma pombinha branca

se coça e se bica

em cima do telhado

eu vejo a pomba branca

e me lembro do Espírito de Deus

o dia chove

uma chuva úmida e contida

uma chuvinha com seu ruído de chuva

outra pomba arrulha

enquanto no meu quarto

leio sobre a vida de um santo

a pombinha branca se foi

o arrulho da outra

(ou será da mesma que se foi?)

permanece até que se vai

resta o ruído do dia que chove

e uma satisfação puríssima na alma

MÃE DO CÉU

no tempo de eu menino

ficava de joelhos num dos lados da cama

juntava as mãos na altura do peito

fechava o olhos: eu acho que fechava os olhos

dizia: cheia de Graça

era uma alegria rezar pra minha Mãe do Céu

depois eu cresci: fui ficando tão tolo

já não rezava pra Ela

supunha as coisas do Céu somente fantasia

eu perdi a alegria do tempo de eu menino

Ela deve ter sofrido um bocado com isso

de eu ter perdido toda a minha alegria

porque a alegria da Mãe é a alegria do filho

hoje reencontro em mim o menino

rezo pra Ela todos os dias

digo-Lhe: cheia de Graça

eu devolvo a alegria à minha Mãe

nunca mais vou me esquecer da minha Mãe do Céu

ESPIGAS

se fome eu sinto

recolho espigas

pelo caminho

mesmo aos domingos

ouço então críticas

ao que pratico

(todo entretido

colho as espigas

esqueço a missa)

mas se é preciso

colher espigas

colho-as tranquilo

pois Jesus Cristo

me tranquiliza

já que Ele ensina

que nenhum rito

se ponha acima

de qualquer vida

VASILHA

pra onde vai a graça de Deus não recebida

porque levo ao Oceano uma pequena vasilha

em que a graça (infinita) não cabia?

a graça de Deus permanece viva

paira no azul do céu: no verde das folhas

no cinza das nuvens: no escuro das noites

(a graça de Deus se esparrama infinita)

espera que eu expanda esta alma que é minha

a provar sempre dela (alegre) me convida

SONHO

houve o dia em que sonhei com Ele

toquei-lhe os pezinhos por debaixo da porta

vi mesmo a fímbria de Sua túnica

acordei com o coração aos saltos de alegria

hoje Ele me diz que não

que nenhum sonho é real

que tudo isso é bobagem minha

que eu e Ele somos o mesmo

tudo é reflexo e ressonância

que seja assim: já que Ele o diz

e Ele é toda a Sabedoria

mas (em minha ilusão) faz-me bem achar

que Ele me visitou naquele dia

e eu toquei os pés d'Ele dizendo-Lhe "Te amo"

repetindo "Te amo" porque assim o sentia

pode ser que isso não me libere

mas isso me alegra: vê-lo em sonho me traz

uma suave e leve e transbordante alegria

PESSOA

entre as pessoas da trindade santa

entre elas há uma que consigo ver

como pessoa: é a pessoa de Cristo

que tem rosto membros boca olhos ouvidos

chora dorme acorda vai e fica

passeia entre as nossas dores e as nossas alegrias

tem nome de gente e é Deus

é Deus sem deixar de ser gente

é gente sem deixar de ser Deus

nasce como os meninos nascem (na barriga

de uma pessoa Ele nasceu um dia)

tudo bem que Seu pai seja o Espírito

mas a mãe era mulher: igualzinha

a todas as mulheres que engravidam

(embora sem pecado concebida)

mamou no seio de Sua mãe

engatinhou foi criancinha esse Cristo

ninado certamente por ternas cantigas

eu gosto um bocado da pessoa divina

eu gosto um bocado desse Cristo

eu gosto das coisas que Ele dizia

que é pra eu amar assim como Ele

pois se assim eu fizer encontrei o caminho

entre as pessoas da trindade Ele existe

diante dos meus olhos O imagino

ouço e guardo as palavras d'Ele

que com a graça de Deus às vezes eu pratico

FORMAS

a uns como brisa

como pomba

como línguas de fogo

a mim como cor

Ele se mostra a todo instante

o alaranjado de Sua túnica

me lembra carinhosamente

que Ele está sempre por perto

cuidando de mim (que sou devoto d'Ele)

DESPERTAR

há o mistério de Deus

há o amor que permeia tudo

há carências na alma do homem

há choro e ranger de dentes

o mistério se oferece: é graça

o amor é caminho e fonte (o amor é o mistério)

carências: que os homens são tolinhos

e se esquecem da fonte

se esquecem de que são a mesma fonte

por isso há choro e ranger de dentes

quando acordo (eu que estava dormindo)

conheço o amor que sou

vislumbro o mistério de Deus

na ausência da palavra me conheço

olhando o que há dentro me conheço

quando acordo é florescência de vida

abundante e fecundante vida

bem-aventurado o que acorda e se percebe livre

CICLO

após a chuva o sol

após o sol a chuva

tudo vai sendo em ciclo

chuva e sol (sol e chuva)

água fecunda a terra

água desce da nuvem

água molhando o mundo

engravidava a terra

o sol aquece o mundo

o calor à semente

dá vida e ela germina

minuto por minuto

a flor nasce do sol

a flor nasce da chuva

nasce da terra pura

é Deus que se faz chuva

é Deus que se faz sol

é Deus que Se fecunda