sexta-feira, 29 de junho de 2012

TUDO

a sensação de que tudo está certo
mesmo havendo o que parece equívoco
tudo está certo
cada acontecimento no seu tempo
tempo de plantar e tempo de colher
tempo de ser alegre e tempo de ser triste
mas tudo rigorosamente certo
de acordo com a vontade não-lógica de Deus

tudo concorrendo para o bem dos que amam a Deus
também os espinhos na carne
também as topadas nos dedões dos pés
também as lágrimas que correm abundantes pela face dos justos

a sensação de plenitude agora
a percepção de que nada
é para ser diferente do que é

e não há questões a resolver
e não há problemas a serem sanados
e Deus (insondável mistério) paira além dos contrários

SORRISOS

ao sorriso das ondas
(elas sorriem líquidas e azuis)
eu sorrio na fluidez da carne
minha carne é o líquido das ondas
são os jogos de Deus: Seus movimentos
que parecem reais como este fim de tarde

o oceano é grande mas cessa
nas praias todas que há
as ondas se desfazem líquidas
minha carne frutificada certo dia se vai
são os jogos de Deus: Seus rostos múltiplos

o pensamento se dilui mas a alma fica
a alma é Deus: somente a alma fica
porque a alma é
a alma não vem
porque a alma nunca se vai

ao sorriso das ondas
a alma (que é Deus) sorri para além do líquido e da carne

sexta-feira, 22 de junho de 2012

INSETO

o inseto pequenino
paira na luz do dia
já não o vejo ínfimo
foi desaparecido

lá nesse inseto há vida
tudo ao redor se vive
mistério incompreendido
vida por si se afirma

o inseto é ser divino
no inseto Deus é vivo
imerso em Sua rotina
de ser Deus nele brinca

amo no inseto o ritmo
dO que no inseto fica
depois Se vai e a vista
não mais O vê e explica

Deus o inseto ilumina
luz que não se decifra

quarta-feira, 13 de junho de 2012

DEUS CHARITAS EST

há que se aguardar o momento
em que não mais rolarão lágrimas pelo rosto dos homens
porque as mãos do Amor vão secá-las na fonte
vão fazer da alma o lugar da alegria

há que se adorar o Amor
há que se adorar o Amor nas formas nascidas
em todas as formas nascidas
servindo as formas como quem serve o Amor

há que se amar o Amor nos carentes de amor

terça-feira, 12 de junho de 2012

Ressurreição

o corpo denso
de crosta espessa
a alma entorpece

e sonolenta
a alma se deixa
prender-se ao tempo

torpor intenso
cerra seus olhos
murcha seus passos

a alma vacila
torna-se aflita
vê-se isolada

já não percebe
que as almas todas
todas são uma

até que o Ser
com sua bela
misericórdia

tocando a alma
qual brisa leve
leva-a no vento

baila com ela
que o sono vence
dá-lhe outro viço

no corpo denso
a alma volátil
de novo brinca