domingo, 31 de dezembro de 2017

ESPERANDO TETHÊ

expectante estou de fevereiro
mais do que um folião pela folia
é outra (entanto) a causa da alegria
é o amor que me inflama por primeiro
em fevereiro vai chegar Maithê
Tethê me chega vinda do infinito
vem pra fazer-me o mundo mais bonito
pr'eu lhe dizer: menina amo você
por fevereiro espero espero espero
Tethê em fevereiro vai ser vinda
como toda criança vai ser linda
vem pr'eu dizer-lhe: tanto bem lhe quero
pra que eu lhe diga que lhe quero bem
que de dizê-lo a alma não se cansa
ansioso espero o mês em que ela vem
mais uma neta mais uma criança
pra renovar-me a vida de Esperança
qual em dezembro a criança de Belém

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

VOCÊ VEIO

passo insensível pelas folhas verdes
pelos frutos e sombra pelas flores
pelos galhos e tronco assim eu passo
olho e não vejo a Mãe na sua espera

os olhos com que olho passam céleres
não são olhos da alma e nada vejo
vejo somente frutos sombra galhos
flores raízes tronco folhas verdes

não ouço o apelo maternal da árvore
que espera o olhar translúcido da alma
que espera a volta de seu filho amado

só vejo o vegetal o verde a árvore
só vejo a forma e nada mais eu vejo
meus olhos são cegueira do que eterno
vive no tronco folhas galhos frutos

mas se vejo com a alma eu ouço o apelo
que a árvore faz porque ao sentir-me perto
sinto-a dizer: meu filho você veio

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

FONTE, CAMINHO E META

Amor é a fonte: dela nascem mundos
dela nascem estrelas brisa fogo
dela é que as formas nascem (nascem todas
as formas do universo: formas múltiplas)
o Amor é a fonte: dela nascem luzes
e sombras nascem dessa mesma fonte
Amor é a via pela qual caminho
os que por ela passam são felizes
é o caminho propício aos aprendizes
o caminho ideal aos andarilhos
é o caminho que trilho pra ser livre
de todos os caminhos ele é sintese
Amor é a meta de quem volta ao Reino
e nele encontra a fonte de onde veio
se alcanço a meta eu me percebo eterno
Amor é a meta a que contente chego
de todo medo pelo amor liberto
fonte: caminho e meta é sempre o mesmo

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

COMO?

como esperar que chegue
O que está sempre sendo
sem término e começo?

como? se não se vai
como? se nunca vem
é (e os mundos permeia)

como esperar a volta
d'O que nunca se ausenta
d'O que é sempre presença?

como invocar Aquele
que em tudo permanece
antes que tudo esteja?

como esperar a vinda
sem que ida tenha havido?
como esperar que venha?

aqui neste momento
ser Deus: a mesma essência
do tempo e do não-tempo

domingo, 10 de setembro de 2017

BOA NOVA

eu penso eu meço eu cronometro eu finjo
a vida (ela não pode ser medida)
ela começa nunca : ela não finda
ela só brinca e ao jogo me convida

mas eu teimo em medi-la : é minha sina
dos humanos viventes que caminham
buscando dar algum sentido à vida
como se a vida fosse estranho enigma

a vida (agora eu sei) não tem sentido
pois é o sentido de si mesma a vida
por isso ela se basta : ela é bonita
de uma beleza que não se decifra

eu penso eu meço eu cronometro eu finjo
a vida : e agindo assim colho a desdita
de aprisionar-me a indagações infindas
atrás de uma resposta que se adia

agora eu sei que a vida se ilumina
quando a vivo sem peso e sem medida

ANIVERSÁRIO DEMARIA HELOISA

num dia oito de setembro (o dia
quando festiva a Igreja comemora
o dia em que nasceu Nossa Senhora
o dia em que nasceu a Mãe Divina)
quase ha cem anos minha mãe nascia

deram-lhe o nome belo de Heloisa
mas antes de Heloisa o nome santo
nome todo doçura e todo encanto
deram-lhe o nome santo de Maria

criança pequenina eu aprendia
com mamãe que ha um céu pleno de luz
onde vive Maria com Jesus
e a gente vai pra lá ela dizia

descubro bem depois que o céu podia
sempre existindo estar dentro de mim
eu vejo nesse céu mamãe sorrindo
mamãe dentro de mim agora eu via
e o seu sorriso nunca vai ter fim

LEVEZA

acordo em mim com leveza na alma
há um colo de mãe
há um colo bom de mãe em que repousa a alma
há um sorriso e outro sorriso
há tantos sorrisos na alma
pela ressurreição do dia após o escuro da noite
da noite benfazeja em que repousa a alma
nesse colo de mãe em mim

acordo contente: tudo em seu lugar
a noite o dia o colo em mim a mãe
em mim o universo em mim
em mim que me reparto com todos
que me sinto irmão de tudo que há

acordo pra vida que há
dentro e fora de mim
a mesma vida a única vida preenchida de vida
a mesma e única vida

há leveza na vida: há leveza na alma

ONIPRESENÇA

eu caminhava entre as pedras do rio
ali morava Deus
no líquido frio das águas do rio
ali morava Deus

Deus morava na nuvem que eu via no céu
na brancura da nuvem Deus morava
morava em cada grão de areia
da praia onde eu andava
na espuma da onda que arrebenta na praia
ali morava Deus

no pó da estrada
pisado pelos pés dos que passavam
por meus pés que O pisavam
no pó da estrada
bem ali Deus morava

em cada forma que meus olhos viam
nas que eu não enxergava

no desamor porém Deus não morava

O AMOR

somente o amor me leva além do escuro
somente o amor me leva além da dor
somente o amor transmuta o espinho em flor
e da prisão me leva além do muro

somente o amor me envolve na alegria
mesmo se é triste o dia de repente
me basta e me sacia o amor somente
da noite envolta em trevas faz meu dia

somente o amor faz viva a minha alma
a clara luz do meu contentamento
me liberta também do penamento
em meio à dor somente: o amor me acalma

o amor somente ao meu caminho traz
a doce paz por mim sempre esperada
a paz que vem do céu: a paz sonhada
somente o amor me banha em luz e em paz

enfim somente o amor me satisfaz
somente o amor: somente o amor: mais nada

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

NAQUELE TEMPO

naquele tempo havia o Deus velhinho
de longas barbas brancas
que morava no céu
pra onde eu ia caso eu fosse bom

pro inferno eu ia caso eu fosse mau
havia o purgatório onde eu ficava
por algum tempo (sendo mau e bom)

também havia o Filho
que tinha vindo pra morrer na cruz
que um dia voltaria pra julgar
se eu tinha sido mau ou sido bom

ainda havia o Espírito
Santo (uma pomba branca)
línguas de fogo (era o consolador)

depois não mais havia
não mais havia Deus (não era o fim)
com olhos novo olho dentro e mim
e de repente havia Deus-Amor

sábado, 8 de julho de 2017

O SORRISO DE CLARICE

há um sorriso bonito
no rosto de Clarice
toda ela é um sorriso
benfazejo sorriso
luminoso sorriso
que do céu veio vindo
lindo no seu rostinho
há um sorriso bonito
todo cheio de viço
no rosto de Clarice
sorriso cristalino
límpido claro vivo
há um sorriso que é signo
do mistério contido
na vinda de Clarice
vindo do espaço infindo
no rosto de Clarice
há o sorriso divino

quarta-feira, 5 de julho de 2017

SACRÁRIO

na nave de uma igreja era o menino
ao menino contavam sobre Deus 
os mistérios de Deus a ele contavam
de um Deus que não se via e já se via
pois que nasceu morreu ressuscitou
subiu aos céus (sempre entre nós está)
ao menino diziam que nos templos
numa caixinha Deus reside e espera
espera os que de Deus têm sede e fome
espera por Suas frágeis criaturas
espera o amor dos que procuram Deus
o menino na nave contemplava
a caixinha e a luzinha vermelhinha
anunciando Deus que ali estava
em divindade e em sangue e em corpo e em alma
então meu coração se dilatava
como balão de encher (sai do meu peito
e faz-se em festa e saboreia Deus)

domingo, 18 de junho de 2017

PEREGRINO

vou peregrino me adentrando a alma
a alma onde está? pergunta o peregrino
mas a pergunta não o encontra aflito
buscando a alma ele regressa a casa

vou peregrino voando como pássaro
voando dentro de mim volto ao menino
reencontro nele o eterno Ser divino
que antes de mim em mim faz sua morada

vou peregrino pela suave estrada
volto ao colo materno como filho
nos caminhos de dentro e tanto o brilho
nos caminhos de dentro e tanta a calma

vou peregrino por veredas claras
o não lugar em mim é meu destino
o destino de todo peregrino
o não lugar onde a palavra cala
onde a alegria é plena (não há lástima)
e a vida vai serena como os rios

segunda-feira, 8 de maio de 2017

EM TODOS DEUS


pelo caminho encontro Deus com fome
na fome de um faminto e vou servi-Lo
quem serve não sou eu mas Deus comigo
pois no faminto e em mim há o Deus sem nome
é Deus que serve a Deus: é Deus que come
o que Ele mesmo oferta: é Deus mendigo
Deus doador: Deus que recebe e o abrigo
Deus amparando Deus na dor de um homem
o ego (que é cego) pensa que ele serve
é sempre Deus que serve: é sempre Deus
Aquele que recebe esse serviço
o mesmo Deus Aquele que me pede
o mesmo Deus recebe o meu pedido
Deus é quem fala ali no desvalido
Deus é quem geme: é Seu todo gemido
Deus auxilia e é quem recebe auxílio
é Deus em mim que atende a Deus pedindo
é Deus em mim também o amor sentido

segunda-feira, 24 de abril de 2017

A CRIAÇÃO

naquele tempo não havia o tempo
só Ele havia eterno no infinito
que era todo das formas não tecido
toda forma a viver ainda não sendo

naquele tempo não havia o vento
era o som do não-vento era o vazio
de tudo que não era então nascido
não havia as tardes nem o amanhecendo

naquele tempo havia o escuro denso
o escuro imenso onde Ele (só) havia
não havia noites não havia os dias
mas sempre d'Ele havia o pensamento

do pensamento d'Ele vão nascendo
a luz as águas terra fogo abismos
as plantas pedras vão nascendo os bichos

nós que em Seu pensamento já vivíamos
nascido o tempo nós então nascemos
no tempo imerso Seu sorriso é pleno



terça-feira, 28 de março de 2017

O EGO

o ego se inflama quer aplausos grita
o ego se irrita quando não é visto
quando passeia anônimo entre os vivos
por não ser visto ele se infelicita
o ego tem medo quer-se cortejado
o ego tem raiva tem furor na alma
tem ódio quer tesouros quer medalhas
o ego percebe a alma aprisionada
ao ego e tanto sofre e perde a calma
se perde o impermanente que idolatra
o ego aborrece a vida se amofina
anda em busca daquilo que termina
sofre a ilusão do que se vai não fica
esbraveja colérico em desdita
se toma de pavor e se angustia
mas nessa forma em que ele o ego habita
quando o ego se dissolve a essência brilha
a mesma essência que é em cada vida

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

IRIS

iris a flor nasce e se esvai num dia
o eterno rompe o tempo e então se ausenta
inesperadamente se apresenta
quando menos seu vir se pressentia

iris a flor o eterno que se inventa
irrompe nos limites me extasia
a alma quando a vejo (principia
e termina tão breve)  se contenta

ciclicamente a flor que não havia
surge (me encanta)  bela me acalenta
do eterno (em tempo exíguo me alimenta)
que de sua beleza se irradia

iris a flor quando ela me surgia
flor nascida mulher (tranquila e lenta
foi sua chegada) logo ela se assenta
bela em meu coração que da alegria
do eterno prova (do que não sabia)
e alarga o dia e o dia me apascenta





terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

INSTANTE

o instante me escapa como a água me escapa
entre os dedos das mãos se vou aprisioná-la
se quero mesmo a água é deixá-la sem tê-la
se quero mesmo o instante é caminhar com ele
por todas as veredas: é passearmos juntos

e Deus que habita o instante me convida a senti-Lo
nas coisas mais pequenas entre as dobras do tempo
entregar-me sem medos: não querer mensurá-Lo
e nunca pensar n"Ele (tão-somente vivê-Lo)

viver Deus no instante a cada instante novo
nas mais pequenas coisas que há no meu caminho
abraçá-Lo e beijá-Lo na pessoa que chega
vê-Lo também na dor que chega
abraçá-Lo e beijá-Lo nessa dor que chega
receber Seus afagos de Mãe
na pessoa na dor no pó da estrada

o instante me baste como me basta Deus
o instante me baste como me basta Deus

FOME DIVINA

sentado no banco azul da parada dos ônibus
Deus com os pés inchados o corpo sem banho os olhos sem esperança
me sento ao lado de Deus: ouço sua voz divina
reclamando da vida reclamando da vida

se dirigindo a mim Deus me pede comida
que eu compre ali no bar pão com sardinha
eu me levanto vou ao bar e volto
(naquele bar não há pão com sardinha)
como voltar a Deus sem levar-Lhe comida?

na lanchonete há salgados e sucos
compro um salgado de carne e um suco de uva
e os levo a Deus esperando comida

Deus contempla o salgado e sabendo-o de carne
me diz que Ele quer um salgado de frango
me levanto de novo e vou à lanchonete
troco o salgado e vou levá-lo a Deus

Deus me sorri um sorriso tão d'Ele
e sôfrego mastiga com Sua fome de Deus

CRIANÇA

quando eu era criança tudo estava certinho
havia os bons e os maus
mocinhos e bandidos
havia certezas na minha alminha de criança

quando eu era criança ainda não havia crepúsculos
havia a noite e havia o dia
durante a noite eu criança dormia
durante o dia ia pra escola e brincava

quando eu era criança havia Deus e o Diabo
o céu e o inferno (o purgatório ao meio)
havia ricos que tinham de ser ricos
havia pobres que tinham de ser pobres
e os do purgatório com medo de ser pobres
uma vontade danada de ser ricos

quando eu era criança havia a vida e a morte
o medo da morte: o desejo da vida
havia virtudes e pecados
tudo no seu lugar quando eu era criança

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

ÁGUA

mora sede na garganta da alma
mora sede de uma água incontrolada
líquido eterno a água não-gerada
nascida líquida de si mesma a água

só dessa água a garganta se acalma
mata sua sede: nada mais a aplaca
é uma sede primeva na garganta da alma
outra água não há que a satisfaça

outros líquidos há de uma doçura amarga
líquidos que se esvaem e uma fonte em que nasçam
deles inquieta a alma não se aparta
mas mesmo assim busca a não-fonte da água
da água que flui antes que o mundo se faça
da água sempre havida e não-chegada

mora sede na garganta da alma
outros líquidos vêm: outros líquidos passam
mas pela alma uma água é desejada
essa que havia quando havia o nada