domingo, 25 de setembro de 2011

DULCIS SALVATOR

meu Jesusinho
Jesus Cristinho
ouça esta prece
que Lhe dirijo

dê-me o abrigo
com Seu carinho
venha comigo
que eu necessito

dê-me sorriso
meu Jesus Cristo
me tire o espinho
porque me firo

mas se o espinho
que vai comigo
corta meu ego
ele é dulcíssimo

deixe-me o espinho
meu Doce Amigo

ESTAR SENDO

há o tempo só pra quem não ama
pra quem ama há o eterno
o instante é pleno pra quem ama
quem não ama definha nas fímbrias do tempo
está preso ao que se vai
ao que se foi e ao que virá
pra quem ama o estar sendo é tudo
porque tudo é amor (tudo é vida)
tudo é Deus

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A FORMA

o serzinho da formiga: a forma
passa por aqui pelos meus dedos
passa sozinha a formiga
alheia a mim e aos meus dedos
depois vai à orelha do livro

já não vejo o sozinho serzinho: a forma
pra onde se foi? mistério
acabo de escrever isso e o vejo de novo
na contracapa do livro ( a forma
caminha célere como sabendo aonde vai)

pula pra página em que escrevo
volta à contracapa a forma
parece que vagueia sem medo
e vive: apenas vive o serzinho (a forma)
carregando em si a presença do Tudo
já que a multiplicidade (eu sei) das formas
é a grande brincadeira de Deus
que (imenso) se deixa mensurar por amor de mim

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

SONETO DE PRECISÃO

nasci pequeno e frágil: precisava
da proteção de alguém que me nutrisse
de quem me acalentasse e me cobrisse
quando o frio da noite me chegava

já nos primeiros passos que tentava
(criança) dar: de alguém que me servisse
de guia: e assim comigo dividisse
o caminho que agora eu caminhava

não mais criança: alguém fosse comigo
pra nos fazermos UM na nossa estrada
(a quem eu dedicasse a minha vida)

na velhice preciso de um amigo
do amor do amigo: só do amor: mais nada
pra dar sentido à estrada percorrida

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

ANIVERSÁRIO

deixem-me crer que meus mortos me escutam
que mamãe não morreu (não sumiu pra sempre)
deixem-me crer que a gente não termina
mergulhando no escuro e se tornando pó
deixem-me crer que há vida pra sempre
alegria pra sempre
que há um céu e que mamãe mora nele

deixem-me crer que a morte não triunfa
desde que Jesus morreu por todos nós
e ressuscitou ao terceiro dia

hoje mamãe fazia aniversário
deram pra ela o nome de Maria
Maria Heloisa era o nome de mamãe
eu repito esse nome como música
repito com doçura e amor
Maria Heloisa
Maria Heloisa
Maria Heloisa


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

FRAGILIDADE

nas capelas minúsculas e toscas
nas antigas catedrais
nas basílicas imponentes
nos templos todos que há
a todo instante Cristo Se oferece ao Pai
pelas mãos de um homem

ânsia ardente me consome a alma
a de ser como Cristo e me entregar ao Pai
ser d'Ele a todo instante
meu corpo uma capela: catedral: basílica
meu corpo templo e dentro dele a alma
oferecida eucaristicamente

consumido de amor por Deus
consumido de amor pelos filhos de Deus
renuncio a mim mesmo
me preencho de Vida
sou Caminho e Verdade

dependo de todos (orem por mim) sou frágil

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

PASSANTES

passam pessoas diante dos olhos do meu rosto
passam milhares de pessoas
as pessoas têm boca têm olhos
as pessoas têm pernas que as conduzem
quando passam diante dos meus olhos as pessoas

sentadas muitas ao redor das mesas
as pessoas comem
as pessoas têm dentes (só não sei se têm fome)
há o ranger de dentes na boca das pessoas

bem na frente dos olhos do meu rosto
há o cartaz com a foto do homem
o cartaz anuncia: a Palavra de Deus também está aqui
(no pagamento à vista se consegue desconto)
no cartaz o homem forja sorriso
pra ver se me convence a comprar a Palavra de Deus

e as pessoas comem e as pessoas passam
indiferentes ao homem que não come nem passa
na foto ele forja o sorriso
pra ver se me vende a Palavra de Deus

enquanto isso
Deus (que está em toda parte)
brinca nos dentes das pessoas e no sorriso do homem


(Na Bienal do Livro, 4/09/2011)

sábado, 3 de setembro de 2011

CERTEZA

havia o medo de morrer
o medo de acabar pra sempre
o medo de mergulhar num escuro sem fim
o medo de estar pra sempre no tempo

havia a dor de estar vivo
a dor de frustrar-me de instante a instante
a dor das perdas sucessivas
a dor de estar no mundo (esse vale de lágrimas)


havia a esperança de que houvesse um céu
a esperança dos anjos e dos santos louvando
a esperança de uma vida sem medo
a esperança de uma vida sem dor

não há mais medo e dor
nem tampouco esperança
só há a certeza de que Deus mora aqui
mora ali mora alhures
mora nos meus olhos
e eu sou imagem d'Ele