HUMILDADE

nas hospedarias
não havia vagas
em todas as casas
vagas não havia

onde achar pousada
pra José e Maria?
era o fim do dia
não se achava nada

era noite clara
uma estrela-guia
pelo céu caminha
de repente para

ao mundo anuncia
Luz de toda alma
Fonte da alegria
vai nascer na calma
das humildes palhas
de uma estrebaria

A CRIAÇÃO

crio não crio crio não crio
caminhava Deus pelas veredas do nada
crio não crio crio não crio
havia dúvida no pensamento de Deus

no nada uma ausência (Ele a sentia)
no escuro do nada uma ausência (onde a vida?)
crio não crio crio não crio
havia dúvida no pensamento de Deus
nos olhos de Deus havia dúvida
havia dúvida em Seu caminho

o amor transborda pelos poros de Deus
o amor incontido nas entranhas de Deus
o amor procura as coisas a amar
nos limites do nada o amor instiga Deus
crio não crio crio não crio

faz Deus então um gesto um pequenino gesto
nesse gesto Ele exclama que se faça a luz
o amor em Deus agora pode amar seus filhos

NO SILÊNCIO DA CASA

filho pródigo retorno a casa
ali onde há o vazio do medo
ali onde o silêncio fala sobre  a casa
me sacia de si e me encontra (o silêncio)

no silêncio da casa
me navego feliz
totalmente feliz
simplesmente feliz com o silêncio
que me sacia de si
que se sacia de mim
porquanto somos um eu e o silêncio

há o vazio do medo na casa
o vazio de todas as tristezas
o vazio da fala que fere
o vazio das aflições que me afligiam
o vazio do tempo ( que me deixava se sorriso a alma)

filho pródigo retorno a casa
no silêncio da casa amo tudo que há

SOPRO SANTO

a alegria na alma é o sopro de Deus
sopro santo de Deus a alegria da alma
na alma-sopro a alegria de Deus
antes do corpo o sopro: sempre o sopro de Deus

pelo corpo Ele passa
vivifica o corpo
eterno e santo sopra o sopro
sopra o sopro de Deus: passeia pelo corpo

em todo corpo sopra
assiste em todo corpo
eterno e santo vive
o mesmo e único sopro

no silêncio de dentro vive o sopro de Deus
quando O encontro festejo
quando O encontro sou pleno
da doçura de Deus
quando o encontro me vejo sopro
no livre voo sem espaço e sem tempo

AS DELICADEZAS DE DEUS

límpida e fresca me dessedenta a água
inspiro o ar solto em torno de mim
na escuro do céu a cintilação das estrelinhas
há raios de sol me acalorando a pele
sob meus pés é a terra que se oferece caminho
as flores diante dos olhos me agradam a pupila
com seu toque sutil doce terno sereno

há também o manso sorriso
o sorriso da amada que é esperança e motivo
de uma alegria imensa nas reentrâncias da alma

a voz da criança carícia
do pássaro o canto e o sussurrar da noite
os sabores do mel e da hóstia consagrada
o sabor das palavras que me saem pela boca
o sabor do Espírito que passeia entre as formas

são as delicadezas de Deus me povoando a alma
são as delicadezas de Deus me fazendo feliz
as delicadezas de Deus: Seu amor Sua graça

OS SENHORES DO MUNDO

os senhores do mundo
dizem aos que sofrem
a ação nefasta dos senhores do mundo
que eles guardem silêncio
obsequioso silêncio
pois Deus os recompensará pelo silêncio
dizem os senhores do mundo

meu coração me diz que Deus
não é conivente com os senhores do mundo
com a ação nefasta dos senhores do mundo
com o sofrimento imposto pelos senhores do mundo

não fosse assim
esse Deus não teria vindo
pra pedir que nos amemos uns aos outros

eu sinto compaixão pelos senhores do mundo
pois também sofrem (a ilusão do que é breve)
e sou solidário aos que sofrem
a ação nefasta dos senhores do mundo
e peço que eles abram a boca
sem ódio e sem medo
pra que se faça um mundo novo sem senhores do mundo

POEMA PARA LENA MENINA

era uma vez a menina
que gostava de brincar
que dançava que sorria
que para a vida vivia
sem medo de se entregar

quando a menina partia
gota que se achega ao mar
luz que se integra às estrelas
agora brinca entre elas
sem nunca mais se cansar

era uma vez a menina
nascida só para amar
de alma pura e cristalina
de alma simples e bonita
que vinha nos alegrar

agora a menina vive
vive uma vida infinita
e brinca (de volta ao lar)

AGRADECIDO

por que Senhor a mim me é dada
esta alegria suave e mansa
esta alegria de criança
esta alegria assim por nada
no belo amanhecer desta jornada?

meu filho amado essa alegria
sou Eu que a ponho em tua alma
essa alegria que te acalma
eu te ofereço a cada dia
porque te abriste à Minha Graça
fonte serena e eterna de alegria

grato Senhor da Criação
pela alegria que me vem
pela alegria mas também
pelos momentos de aflição
e sobretudo pelo bem
que é tê-Lo sempre aqui no coração

TRISTEZA

uma tristeza inesperada
vem visitar-me sem convite
ela a tristeza me vem vindo
passar um tempo em minha alma

a alma vai ficando aflita
na alma aflita a paz é nada
da alma a alegria é retirada
quando me chega essa visita

será que devo rejeitá-la?
devo acolhê-la como amiga?
sei que na alma ressequida
essa tristeza já se instala

essa tristeza é permitida
por Deus e assim ela me abraça
deixa-me a alma tão sem graça
deixa-me a a alma tão sem vida

então ao Filho de Maria
peço: alegria em mim se faça

ANTES DO NADA

há uma criança toda pura
no coração de toda gente
ela saltita de contente
dentro de cada criatura

mas é preciso libertá-la
p'ra que se mostre em seu sorriso
calar-se o ego é o que é preciso
fala a criança: o ego se cala

essa criança bate palmas
pula de alegre brinca e dança
é o Ser Eterno essa criança
ela reside em nossas almas

em toda forma faz morada
em toda forma está contida

essa criança é não gerada
essa criança é não nascida
existe mesmo antes do nada
antes do que chamamos vida

JARDINS

corro pelos jardins de minha alma
nos jardins floridos em minha alma

há desvãos escuros
há luz e sombra em minha alma
nos jardins de minha alma não há sombras só luz
e eu menino corro por eles de mãos dadas com Deus

Deus me diz que me ama
quer preencher os desvãos com Sua luz
até não haver mais sombra em minha alma

diz que eu me entregue a Ele
deixe que me conduza pelos jardins
até que minha alma fique toda florida
e não haja mais sombra
só luz
luz perfumosa embelezando a alma
suavizando a alma
e não haja mais sombra
só luz

O DEUS DE COMPAIXÃO

há um Deus sisudo espreitando as criaturas
para punir as criaturas
um Deus que se deleita em punir as criaturas
um Deus carrancudo e de mal com a vida
de quem eu tinha medo
então O bajulava
rezando pai-nossos e ave-marias

no fundo eu não gostava desse Deus

depois há um Deus risonho
um Deus que brinca
um Deus que voa como os passarinhos
agita as ondas do mar
baila na brisa fresca da tarde
acende a luz das estrelinhas do céu
dança ao compasso dos astros que giram
e se esparrama dentro de mim

eu tenho compaixão desse Deus sisudo
porque Ele passa a eternidade todo tristinho

NUVEM

quem te pôs nuvem entre meus olhos e o sol?
quem mora para além do sol e mora no sol
e mora em todas as nuvens
e mora nos meus olhos que agora
não veem o sol

foi Ele quem te pôs entre meus olhos e o sol
pra que eu te aceite nuvem
pra que eu te acolha nuvem
pra que eu me veja em ti ao perceber-te d'Ele
assim como sou d'Ele
ao percebê-Lo em ti nessa forma de nuvem
ao perceber-me nuvem
ao percebê-Lo esplêndido entre todas as nuvens
e O ame entre as nuvens
em todas as formas que são d'Ele
nas formas em que Ele Se esconde e Se mostra nuvem

entre meus olhos e o sol
entre meu coração e o céu povoado de nuvens

AURORA

há o lampejo de uma luz que chega
o prenúncio de Aurora iluminando os olhos
dos que ávidos da vinda
pela luz esperam
esperam por Aurora que anuncia a vida

há um tempo de espera
há um tempo de vinda
nesses dois tempos alegria e festa

há o tempo de Aurora
anunciando a vida
o prenúncio de Aurora
iluminando os olhos dos que esperam
esperam pela vinda
banhados na alegria

há o lampejo da luz na esperança de Aurora
na esperança da espera
há nos olhos a luz antecipando a vida
que pouco a pouco chega

O MESMO DEUS

quando o pássaro fizer seu ninho
nos meandros do coração que bate
bate dentro de mim
então eu saberei que DEUS
despertou de Seu sono dentro de mim

no céu a lua vai brilhar laranja
e o desapego fará seu ninho em mim
como o doce pássaro que fez seu ninho
nos meandros doces do coração que bate
bate dentro de mim

então eu saberei que o pássaro e a lua e o coração
são o mesmo DEUS
fora e dentro de mim

VERDADE

dizem-me que em verdade eu sou Ele
 vá lá que seja  (que isso seja verdade)
mas não quero ser Ele
ao menos por agora  não quero

porque me alegra vê-Lo nas plantas
vê-Lo nos pássaros
vê-Lo na poeira da estrada sobre a qual caminho
e adorá-Lo em todas as coisas que vejo

dizem-me que ao conhecer-me n'Ele eu me acordo
me acordo do sono (da ilusão) do que é menos que o céu
deixem-me dormir essse sono e sonhar com Ele
que pra servi-Lo vivo entre os seres viventes

dizem-me que eu sou Ele
mas por ora não quero

deixem-me pensar que eu sou eu e Ele é Ele
Ele é Ele em todas as suas criaturas
Ele é Ele no ar nos mares na areia no vento e na tarde mansa
Ele é Ele à espera do amor (do meu amor)

SÚPLICA

Senhor empresta-me
os Teus ouvidos
ouve o que eu digo
ouve o meu grito
silencioso
sê compassivo
sê piedoso
com este Teu filho

faz com que eu seja
como o caniço
da flauta oca
pra que por ele
por seu vazio
sopre incontido
Teu doce alento
o hálito santo
do Santo Espírito

Pai Mãe Amigo
não sejas tardo
no atendimento
do meu pedido

dá-me um carinho
dos Teus carinhos
para que eu viva
e que os desejos
todos que sinto
todos se tornem
um só desejo
denso e infinito
o  só desejo
de estar Contigo

HELENA

entre nuvens irisadas anjinhos brincam
de roda brincam
de pique brincam
de amarelinha
pulam carniça
brincam de esconde-esconde

os anjinhos são vivos seus olhos
são olhos  límpidos cristalinos purinhos
purinhos são os olhos dos anjinhos que brincam
entre as nuvens irisadas do céu

um dos anjinhos (um dos mais travessos)
de olhos purtinhos cristalinos límpidos
travesso e alegre por travesso deixa
deixa as nuvens no céu

vem morar no mundo
ganha um nome: Helena
matiza de céu o mundo
traz ao mundo as alegrias do céu

COLO

no colo virginal da Mãe Divina
(doce Mamãe do Céu)
refugio o menino
esse que em mim habita
a Mãe Divina e essse menino brincam

Ela o chama de filho
(Seu amado filhinho)
e o beija nas bochechas e as belisca
num gesto de carinho

no colo virginal encontra abrigo
passa os dias sorrindo
passa noites sem medo
em Seu colo com Ela nos caminhos
regala-se de vida

no colo virginal da Mãe Divina
o menino se aninha
nutre-se do infinito
amor (do puro amor de que preciso)

LOUVOR

como o pássaro que ouço
(ainda há pouco ouço o pássaro)
a cantar no arvoredo
desperto-me louvando
desperto-me cantando
ao doce Senhor do amor

pelo arvoredo O louvo e pelo pássaro
pela luz que traz luz a meus olhos
pelo ar que com gosto respiro
pelas plantas que dessedento
na mais tenra manhã
pela água com que as plantas molho
pelos sons que me vêm da vida
vivendo a meu redor

pela amada que se acorda oferenda

por Ele (enfim) no arvoredo e na água
nas plantas e nos sons
no pássaro e na amada

VISITAÇÃO DO AMOR

niño nene menino menininho
meninozinho ainda pequenino
o Amor por dias 23 esteve
ouvindo histórias minhas pra dormir

e era um transbordamento de carinho
uma efusão de risos e sorrisos
e zanga às vezes outras um chorinho
e uma alegria imensa de existir

por dias 23 nós existimos
um para o outro nos instantes mínimos
num doar-se incessante e sem limites
dois corações dispostos a se abrir

o Amor (provei-o) é muito engraçadinho
de olhos azuis e pele bem branquinha
dadas as mãos andamos nos caminhos
fruindo de mãos dadas o ir e vir

depois o Amor se vai (fico sozinho?)
não: pois se vai mas permanece em mim

PASSARINHO

um pássaro (qual o seu nome?)
um passarozinho com os pezinhos no fio
folha seca no bico
no biquinho de pássaro sem nome

ele o pássaro canta
um outro pássaro canta já sem folha no bico

ele não ceifa nem planta
mas nutrido passeia e pousa nos fios

quem o nutre? Mistério
é fato porém que passeia nutrido
pois o Mistério alimenta seus filhos

bate as asas e voa à procura do ninho
que ele tece de vida e o povoa de ovinhos

o Mistério o sustenta nutrindo-o
da mesma vida com que tece o ninho

há um pássaro que pousa no fio
e voa livre (do Mistério nutrido)
há um gosto de amor em tudo isso