MEDO

eu era criança e tinha medo do inferno
eu tinha medo de Deus que tinha feito o inferno
pra me jogar nele pra sempre se eu não fosse bom

eu queria ser bom pra não ir pro inferno
mas às vezes eu me percebia ruinzinho
sentia medo de Deus me jogando no inferno

me diziam que Deus via todos meus passos
tudo que eu fazia Ele estava enxergando
anotava direitinho todos os meus pecados

me diziam também que pelos meus pecados
Deus se fizera homem pra morrer numa cruz
tinha ressuscitado retornado ao céu e ia voltar pra me jogar no inferno
se eu não fosse bom

mais tarde eu descobri que Deus mora dentro de mim
que nunca vai me jogar no inferno
descobri que ele mora dentro de mim
e em todas as criaturas Ele mora

nunca mais tive medo de Deus nem do inferno

LILA

brincam de roda as bolinhas do céu
em torno de seu sol e giram
giram giram giram sem saber
sem saber por que giram as bolinhas do céu

brincam de esconde-esconde os pássaros que voam
de um galho a outro galho sem saber
sem saber por que voam os pássaros que voam

brincam as formiguinhas indo e vindo
sem saber por que vão
sem saber por que vêm
as formiguinhas indo e vindo

brincam as ondas do mar sobre as ondas do mar
sobre as ondas do mar sobre as ondas do mar
sem saber por que brincam as ondas do mar

brinca o Senhor do Amor quando se faz bolinhas
do céu pássaros formiguinhas ondas do mar
brinca o Senhor do Amor quando sopra Seu sopro
nos viventes que brincam quando neles brinca o Senhor do Amor

TRÍADE E UNIDADE

o feminino em mim
chama-se Iris Selene
chama-se Ana Cristina
chama-se Sophia

fazem morada bem no centro de mim
habitam meu pensamento
habitam-me o coração sereno
moram na minha alma como a Virgem Maria

Iris a namorada a quem chamo Leninha
Ana a filha Cristina graça vinda do Espírito
Sophia pequenina e recém-vinda
porção de vida plena trazendo-me mais vida

o feminino me completa em mim
Iris Ana Sophia
a mulher que há em mim e que me fertiliza

em meu sorriso há o sorriso de Iris
no anseio pela vida há o anseio de Aninha
na alegria da alma a vinda de Sophia

PASSAGEM

era Ele mesmo Deus diante de mim
eu nada percebia
e rejeitava Deus
e todo um mar de angústia me afligia

pois supunha que tendo Sua visão
o êxtase a alegria
eu provaria enfim: provava não
por isso sucumbia
ao peso da aflição

enquanto O rejeitava o amor fluía
de Deus a mim: mas eu
aflito mais  e mais triste ficava
mais  rejeitava Deus

Deus porém puro Amor
me amando prosseguia
até que o Amor venceu
meu ego esmoreceu
e a Luz plenificou todo o meu dia

PEQUENA PETIÇÃO

entre as partículas santas e meus olhos
há uma porta fechada: a chave onde está?
sobre o mármore frio há um busto de homem
um homem metálico de expressão triste
sobre o tabernáculo a Virgem que aponta para o Filho docemente

há nos lábios da Virgem o pleno sorriso
a Virgem me vê e me chama de filho
sou filho amado da Virgem Maria
que docemente aponta para o Filho
com sua mão serena de Mãe

há no meu coração todo o amor pela Virgem
por minha Mãe do Céu a quem rezava menino
todas as noites antes de dormir
a quem confiava meus sonhos todos os dias
(criança que eu era) e me aninhava no colo da Mãe

Santa Maria Mãe de Deus
faço-te nesta manhã de domingo
uma petição pequenina

teu conforto de Mãe nunca me falte
teus  cuidados de Mãe estejam sempre comigo
teu amor me preencha a alma

para que eu nada rejeite da criação de Deus

CANÇÃO DE SOPHIA

ouve o meu coração criança amada
hoje chegada para o meu encanto
ouve o meu coração que te ama e tanto
quando chegas ao vir da madrugada
num dia primeiro auspicioso e santo
ouve meu coração e ouve meu pranto
meu pranto alegre pela sua chegada

e vê (Sophia) a dádiva ofertada
por Deus a ti: diante da qual me espanto
o milagre da vida: quando canto
a vida em ti por mim seja louvada

ouve meu coração pulsando em cada
momento eterno qual doce acalanto
em que a criança durma: durma enquanto
sorvo a alegria imensa que me é dada

ouve o pulsar do coração e o canto
que me escapa da alma e que no entanto
deixa-me a alma assim plenificada

           (Neste dia 1º de outubro nasceu Sophia, minha neta, filha de Ana Cristina)

ÁRVORES

olhai amados meus para as árvores livres
de toda ânsia e inquietação
vede amados as árvores serenas
em cujos galhos pássaros se abrigam

as árvores vivem
elas fixas na terra não se afligem
e se nutrem tranquilas
há quem as nutra e ensine
o caminho às raízes
há quem as oriente para os frutos
que delas nascem

e nós amados meus há quem nos veja?
por que me aflijo quando não me decifro?
por que me angustio
se há quem me assista?

olhai amados o silêncio das árvores que não se decifram
olhai para a sua alegria
de estar vivas

          Mendes, 29 de setembro de 2012