sábado, 31 de janeiro de 2015

HISTÓRIA DE UM ANJO

houve uma vez em quele disse a Deus
já farto estou das nuvens em que brinco
farto das brincadeiras que repito
quero saber o que há além do céu
quero descer na poeira das estrelas
escorregar na cauda dos cometas
me balançar nos astros que cintilam
quero inventar as novas brincadeiras
descobrir mundo novo onde recrio
a vida a cada dia (disse a Deus)

Deus todo-compreensivo consentia
que ele deixasse as nuvens lá do céu
caminhasse na poeira das estrelas
até chegar à terra desejada

agora sim não lhe faltava nada
pois conhecia já a terra e o céu
e pra não se esquecer de quem ele era
aqui na terra chama-se Miguel

DEUS CONCRETO

abro a cortina: o encontro do concreto
interditando espaços que antes via
de início a sensação de que estou preso
emparedado encarcerado alheio
aos espaços que havia (uma surpresa)

a paisagem de outrora agora cinza
áspera dura tão sem cores fria
dá-me de início a sólida certeza
de que a prisão é mesmo o meu destino
o destino da humana criatura
do humano coração que todo aflito
acorda a cada dia na procura
de que não haja mais prisões no mundo

de início a sensação quase de angústia
mas súbito a visão vara o concreto
vê para além das formas que a encarceram
no concreto vê Deus e ama o concreto
vê Deus nesse concreto e se extasia

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Poema para Fernando

em Fernando o amor
se faz menino e vem
alumbrar nosso sonho
iluminá-lo dessa luz criança
anunciar que a vida é bonita
germinada do sopro de Deus
e se faz corpo num corpo
mais que corpo (sacrário)

em Fernando a vida se anuncia dádiva
se anuncia graça
júbilo alegria
ele vem clarear nossa noite
transfigurar nosso dia
nosso rosto povoar de sorriso

em Fernando há o toque divino
a vontade divina
a serena presença de Deus
do Deus que um dia também veio menino

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

DESMEDO

no menino havia medo
medo no menino que eu
porquanto Deus se escondera
ia o menino sem Deus

não que Deus houvesse ido
do menino (Deus não chega
nem Se vai) permanecera
mas era como se agora
Deus permanecesse alheio
ao menino com seu medo
sentindo Deus todo ausente

eis que então subitamente
Deus no menino movendo-Se
diz ao menino: sou Eu
pega-me assim pela mão
aquece meu coração
faz-me saber que eu sou Deus