segunda-feira, 20 de abril de 2015

MAMÃE DE DEUS

o Deus invisível
olhava as criaturas
visíveis: notava
a enorme alegria
quando essas criaturas
diziam MAMÃE

no colo da mãe
humanas criaturas
contentes sorriem
nos braços da mãe
se sentem seguras
debaixo do olhar
suave das mães
se sentem felizes

o Deus invisível
criara as criaturas
e todas as mães
as mães Ele criara
para nelas ver-Se
pois criara as mães
como imagem Sua
d'Ele que ama todas
as Suas criaturas
mesmo sem motivo
só por serem filhos

nesse amor de mãe
por Seus filhos via
(o Deus invisível)
Ele a Si Se via
contente sorria
sorria feliz

então certo dia
o Deus invisível
quis ter a alegria
da humana criatura
aí Ele veio
como nenenzinho
pra ter o gostinho
de olhar pra Maria
e dizer MAMÃE

sexta-feira, 17 de abril de 2015

IMENSO

as palavras não dizem d'O que é Deus
as palavras limitam-se ao que meço
ao que tem peso e pode ser pensado
Deus não tem peso e é todo ilimitado
não cabe no universo do que eu falo

devo buscar a não-palavra e o faço
na linguagem do poema ou no silêncio
no silêncio de dentro eu me descanso
das palavras em que me aprisionava
sem sentir o sabor d'O que Ele é

fecho meus olhos e entro no silêncio
comigo nada levo exceto a fé
e navego o silêncio por instantes
à procura de Deus que nas palavras
Se esvazia de Si torna-se ideia

emudeço e navego no Mistério
vou além das palavras nada penso
tão simplesmente a Deus eu me ofereço

sexta-feira, 10 de abril de 2015

BALADA PARA O POBRE DE ASSIS

(Poema escrito no dia 4 de outubro de 1988)

Em Assis, um dia,
Nasce uma criança
Que depois seria
Jovem gastador...
Vinhos, melodias,
Noites maldormidas,
Risos, fantasias...
Em Assis, um dia,
Nasce uma criança
Que depois seria
Jovem gastador...
Pouco a pouco o jovem
Já se percebia
Sempre insatisfeito:
Vida em si vazia,
Parte para a luta
Porque pretendia
Realizar conquistas,
Preencher seus dias.
Em Assis, um dia,
Nasce uma criança
Que depois seria
Jovem gastador...
Ferem-no na guerra,
Nem andar podia.
Fica numa cela,
Volta, e a mãe o guia,
Dando-lhe guarida.
Em Assis, um dia,
Nasce uma criança
Que depois seria
Jovem gastador...
Mas durante os tempos
Duros de agonia,
Começava a ver
O que ainda não via
E também a ouvir
O que nunca ouvira
E mesmo a sentir
O que não sentia.
Em Assis, um dia,
Nasce uma criança
Que depois seria
Jovem gastador...

Eis que certo dia,
Indo pela estrada
(Sem mercadoria,
Toda já vendida)
Vê quem lhe pedia
Mais do que uma esmola.
Quem o entenderia?
Esse jovem pródigo
Dar ao homem ia
Moedas da sacola
- Moedas de ouro, frias-
Quando no seu peito
Surge a voz que ouvia.
Desce do cavalo,
Deixa a montaria,
Achega-se ao homem,
- Lepra corroía
Suas carnes fétidas -
E nem parecia
Ser leprosa a pele
De quem lhe pedia...
Pois beija seu rosto,
Pleno de alegia,
Dando alento ao homem
- Que era o que queria -.
Em Assis, um dia,
Nasce uma criança
Que depois seria
Jovem gastador...

Transformar-se-ia
(Ao beijar a face
Que a lepra comia)
Em humilde servo
Que a Deus serviria
Na dor do irmão pobre
Por quem viveria.
Em Assis, um dia,
Nasce uma criança
Que depois seria
Jovem gastador...
Tanto mudaria
Sua vida um beijo,
Porque ele sabia
Que beijara o Cristo
- Filho de Maria -
Nessa face do homem
Que esmolas pedia.
Desde então o jovem
Festas repudia
E ao que é vão no mundo
Ele renuncia.
Despojar-se quer,
Nada o prenderia.
Livre para Deus,
Só de Deus seria
No serviço ao pobre
Por quem já vivia.

"Restaure-Me a Igreja",
Cristo lhe diria
Na modesta ermida...
Logo ele partia
Para catar pedras
Com as quais faria
O que ele julgava
Cristo lhe exigia.
"Restaure-Me a Igreja",
Cristo lhe pedia,
E ele, finalmente,
Compreenderia...
"Restaure-me a Igreja,
O espírito"... pedia
O Mestre ao discípulo.

E o jovem de Assis
Que já fora, um dia,
Jovem gastador,
Para nós se fez
Voz, presença viva
De Jesus Senhor!