domingo, 10 de setembro de 2017

BOA NOVA

eu penso eu meço eu cronometro eu finjo
a vida (ela não pode ser medida)
ela começa nunca : ela não finda
ela só brinca e ao jogo me convida

mas eu teimo em medi-la : é minha sina
dos humanos viventes que caminham
buscando dar algum sentido à vida
como se a vida fosse estranho enigma

a vida (agora eu sei) não tem sentido
pois é o sentido de si mesma a vida
por isso ela se basta : ela é bonita
de uma beleza que não se decifra

eu penso eu meço eu cronometro eu finjo
a vida : e agindo assim colho a desdita
de aprisionar-me a indagações infindas
atrás de uma resposta que se adia

agora eu sei que a vida se ilumina
quando a vivo sem peso e sem medida

ANIVERSÁRIO DEMARIA HELOISA

num dia oito de setembro (o dia
quando festiva a Igreja comemora
o dia em que nasceu Nossa Senhora
o dia em que nasceu a Mãe Divina)
quase ha cem anos minha mãe nascia

deram-lhe o nome belo de Heloisa
mas antes de Heloisa o nome santo
nome todo doçura e todo encanto
deram-lhe o nome santo de Maria

criança pequenina eu aprendia
com mamãe que ha um céu pleno de luz
onde vive Maria com Jesus
e a gente vai pra lá ela dizia

descubro bem depois que o céu podia
sempre existindo estar dentro de mim
eu vejo nesse céu mamãe sorrindo
mamãe dentro de mim agora eu via
e o seu sorriso nunca vai ter fim

LEVEZA

acordo em mim com leveza na alma
há um colo de mãe
há um colo bom de mãe em que repousa a alma
há um sorriso e outro sorriso
há tantos sorrisos na alma
pela ressurreição do dia após o escuro da noite
da noite benfazeja em que repousa a alma
nesse colo de mãe em mim

acordo contente: tudo em seu lugar
a noite o dia o colo em mim a mãe
em mim o universo em mim
em mim que me reparto com todos
que me sinto irmão de tudo que há

acordo pra vida que há
dentro e fora de mim
a mesma vida a única vida preenchida de vida
a mesma e única vida

há leveza na vida: há leveza na alma

ONIPRESENÇA

eu caminhava entre as pedras do rio
ali morava Deus
no líquido frio das águas do rio
ali morava Deus

Deus morava na nuvem que eu via no céu
na brancura da nuvem Deus morava
morava em cada grão de areia
da praia onde eu andava
na espuma da onda que arrebenta na praia
ali morava Deus

no pó da estrada
pisado pelos pés dos que passavam
por meus pés que O pisavam
no pó da estrada
bem ali Deus morava

em cada forma que meus olhos viam
nas que eu não enxergava

no desamor porém Deus não morava

O AMOR

somente o amor me leva além do escuro
somente o amor me leva além da dor
somente o amor transmuta o espinho em flor
e da prisão me leva além do muro

somente o amor me envolve na alegria
mesmo se é triste o dia de repente
me basta e me sacia o amor somente
da noite envolta em trevas faz meu dia

somente o amor faz viva a minha alma
a clara luz do meu contentamento
me liberta também do penamento
em meio à dor somente: o amor me acalma

o amor somente ao meu caminho traz
a doce paz por mim sempre esperada
a paz que vem do céu: a paz sonhada
somente o amor me banha em luz e em paz

enfim somente o amor me satisfaz
somente o amor: somente o amor: mais nada