domingo, 26 de dezembro de 2010

ALI

ali onde a pergunta cessa
por não haver o signo
que resposta me seja

ali onde em vão se pergunta
(o que é pra se saber
não se aprisiona no signo)

ali habitação do silêncio
do piedoso silêncio
do denso e só silêncio

ali me dessedento
numa fonte que é Deus
amo a Deus sobre todas as coisas

amo todas as coisas como um dom de Deus

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

REFLEXO

toda alma
toda alma no olhar é que ela se mostra
no olhar a alma
não se vai esconder

no olhar de Maria
(a menina)
ali mora o menino
Jesusinho morando
luminoso e sereno
na mansidão do olhar
na alma da menina

esse Jesus nascido hoje
nascido estava nesse olhar
esse Jesus nascido hoje
o seu olhar era o olhar de Maria
esse Jesus nascido hoje
nasce no olhar encantado
no olhar imaculado da menina

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

IDENTIDADE

ele era o "seu" Francisco
eu era o Eraldo
ele caminhava pela areia
eu o seguia e o escutava

ele então me falava sobre Cristo
também sobre Maria me falava
(a quem chamava sempre de Santíssima)
ele amava Cristo e à Mãe de Cristo

quando ele me falava sobre Cristo
era uma luz belíssima em seus olhos
e sua fala era fala e era vida
mais do que fala era plantio
ia plantando sementes de sol na minha alma

a água do mar vinha saudá-lo
e a mim quando juntos na praia
estar ali com "seu" Francisco
era caminho em que alegre eu navegava

um dia ele se foi (o "seu" Francisco)
mas entranhado em mim ainda passeia
comigo pela praia

vive em meus passos e na minha fala
nas sementes que agora germinadas
iluminam-me a alma

ele era o "seu" Francisco
eu era o Eraldo
hoje somos o sol: a areia: a água

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

DUIUGUE

o Duiugue está sempre
fazendo habitação em mim
ele está sempre comigo
dia e noite (todos os dias)
também nas tardes dos dias
ele vai comigo

juntos eu e ele
nós vamos a Benfica
ele habitando em mim
juntos nós vamos todos os dias a Benfica

foi o Duiugue quem me ensinou
sobre o amor dos irmãos
nossos corpos teceram-se no mesmo lugar
vieram do ventre da mamãe Heloïsa
a minha alma e a dele
vieram pra que houvesse uma ponte
entre mim e o Duiugue

mas eu nem sei se ele conhece
essa afeição e esse carinho
esse gostar que pulsa
no meu sentimento de irmão
eu não sei se o Duiugue conhece
que está sempre comigo
todos os dias (dia e noite)
também nas tardes dos dias
e em suas manhãs

ele é uma pessoa bonita
(não se conhece mas se cumprimenta)
foi ele mesmo que um dia me disse isso
o Duiugue diz coisas assim
eu gosto dessas coisas que ele diz

eu gosto dele e ele gosta de mim
eu sinto que o Duiugue gosta de mim
porque o coração do Duiugue
é repleto dessas sementes de ser bom
de gostar das pessoas
das plantas e dos bichos e das pedras

o coração do Duiugue
não é um coração seco
um coração árido e espinhoso
não é não
o coração do Duiugue é bonito
nascem coisas bonitas do coração do Duiugue
e ele todo é um reflexo desse coração

este poema se faz
só pra dizer pro Duiugue
que em Benfica
aonde vamos todos os dias
todos os corações são belos como o dele

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

EU

eu não sou só eu
eu sou meu pai
minha mãe
vovô alfredo
vovó celina
sou meus avós paternos
juvenal e elisa
sou meus tios e tias
meus primos e primas
sou uma porção de gente
que há em mim

sou meus irmãos
eliana e eneida
duiugue e ju
sou meus sobrinhos
meus filhos
meu neto
sou leninha (a amada)

sou a água que bebo
os vegetais que como
a paisagem que vejo
sou meus amigos e os meus inimigos
sou o presente o passado e o que virá

sou o velho e o novo
sou a matéria e o espírito
sou parte mas também sou o todo

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A BARATA

ela se fez presente
passeava pelo piso
no meio das palavras que eu dizia

ali não a queriam
ela era indesejada
remexia no medo das pessoas

mas nela estava a vida
a mesma vida
a única e onipresente vida
que há nos entes mais belos
e nos mais feiosos

e a vida que lateja em mim
dentro e fora de mim
(lateja no coração que há em mim)
se irmanava à vida
que na forma feiosa (coitadinha)
passeava inocente pelo piso

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

VIAGEM A VILA VELHA

a mente vinha pela estrada
toda absorta em pensamento

o coração em si nada pensava
feliz por estar vindo
o coração sorri contente
enfim de estar vivendo o seu destino

a mente imagens projetava

o coração tão docemente
vinha cantando pela madrugada

a mente ideias construindo
ideias a falar quando o momento
dado pra fala fosse assim nascido

na mente o amor é pensamento
a mente pensa e pensa
pensa pra que o amor se faça em fala

o coração não pensa nada
o coração pulsa e está livre
e livre o coração somente amava